IMPÉRIO HOLANDÊS, IMPÉRIO INGLÊS E IMPÉRIO FRANCÊS
O império Holandês.Como é que um grupo de revoltosos por motivos religiosos conseguiu criar por alguns anos uma das maiores potências marítimas?
De uma forma resumida: na década de 1560, as províncias do sul (habitualmente chamada de Flandres), viram uma parte importante converter-se ao calvinismo. A repressão espanhola não tardou e muitos dos calvinistas fugiram para as províncias do norte (que se tinham mantido católicas). Expulsando os padres da igreja católica (ao contrário do que sucedera no sul, em que os padres se tinham convertidos em ministros protestantes), sem poder impor à população a nova religião, conseguiram pelo menos apropriar-se do governo das 7 províncias. A província da Holanda começou (com o afluxo de refugiados do sul) a dedicar-se à pirataria, e ao fechar a entrada do rio escalda ao porto de Antuérpia (o grande porto do sul), liquidou o comércio das províncias do sul, tendo Amesterdão no norte substituído Antuérpia. Grupos de mercadores associavam-se (para minimizar as perdas) e começaram a enviar pequenas frotas para o oriente (até então monopólio dos portugueses): apesar de por vezes as perdas incluírem ¾ dos barcos, os lucros chegavam aos 400 %. O dinheiro era em parte investido noutros negócios (como seguro no caso das coisas correrem mal), mas a maior parte era reinvestido em novas frotas. Ao fim de alguns anos, os mercadores começaram a associar-se em companhias que se disputavam (havia uma média uma companhia por província); para evitar as rivalidades, essas companhias fundiram-se, criando a companhia das índias ocidentais, e a companhia das ilhas orientais. Assim formava-se uma forte e rica classe de mercadores com espírito de iniciativa, que contrastava com as monarquias ibéricas, em que a Coroa detinha o monopólio dos comércios mais lucrativos, com pesadas burocracias.
À medida que os anos passando, as 2 companhias deixaram de ter um carácter estritamente comercial, e começaram a conquistar territórios (sobretudo aos portugueses), ocupando parte do Brasil, Angola, etc. A ocupação de territórios exigia a manutenção de guarnições e frotas de defesa ao mesmo tempo que os inimigos europeus aumentavam (e mesmo os indígenas que deixavam de os ver como libertadores para meros novos ocupantes), perdendo boa parte dos seus territórios e da sua parte do comércio. Acabaram por ficar apenas com alguns enclaves nas Antilhas, Suriname, Indonésia, e uma colónia no cabo destinada a ter um curioso destino.
IMPÉRIO BRITÂNICO
Os ingleses lançaram-se à conquista do mundo durante o reinado de Henrique VIII (1509-1547), que promoveu a indústria naval, como forma de expandir o comércio para além das Ilhas Britânicas. Mas as primeiras colónias britânicas só foram fundadas durante o reinado de Isabel I, quando Sir Francis Drake circumnavegou o globo nos anos 1577 a 1580 (Fernão de Magalhães já a tinha realizado em 1522). Em 1579, Drake chegou à Califórnia e proclamou aquela região “colónia da Coroa”, chamando-lhe “Nova Albion” ("Nova Inglaterra"), mas não promoveu a sua ocupação. Humphrey Gilbert chegou à Terra Nova em 1583 e declarou-a colónia inglesa, enquanto Sir Walter Raleigh organizou a colónia da Virginia em 1587, mas ambas estas colónias tiveram pouco tempo de vida e tiveram de ser abandonadas, por falta de comida e encontros hostis com as tribos indígenas do continente Americano.
Foi apenas no século seguinte, durante o reinado de Jaime I da Inglaterra, depois da derrota da Armada Invencível de Espanha, que foi assinado o Tratado de Londres, permitindo o estabelecimento da colónia da Virginia em 1607. Durante os três séculos seguintes, os ingleses expandiram o seu império a praticamente todo o mundo, incluindo grande parte de África, quase toda a América do Norte, a Índia e regiões vizinhas e várias ilhas ao redor do mundo.
Assim, em 1670 já existiam colónias inglesas estáveis na América do Norte (Nova Inglaterra, Virgínia, Carolina) e em Antígua, Barbados, Belize e Jamaica, bem como uma penetração comercial na Índia desde 1600, graças à Companhia das Índias Orientais. Funda desde 1660, em África, entrepostos de captação de escravos para as plantações americanas, apossando-se, no século seguinte em 1787, de inúmeros territórios entre o Rio Gâmbia (encravado no Senegal francês) e a Nigéria, abarcando a famosa Costa do Ouro, o actual Gana. O século XVIII é, deste modo, o período de afirmação e maturação do projecto colonial britânico.
O seu único revés neste período, forte aliás, será a independência dos EUA, em 1776. Esta perda será compensada com o início da colonização da Austrália em 1783 e mais tarde da Nova Zelândia a partir de 1840, para onde envia inicialmente deportados.
A sua armada mantém-se superior às demais com a Batalha de Trafalgar em 1805, impondo uma vez mais uma pesada derrota a um adversário. O domínio de novas colónias é constante nesta altura - Malaca, desde 1795, Ceilão, Trindade e Tobago, em 1802, Malta, Santa Lúcia e Maurícia, em 1815, depois da derrota napoleónica e do seu bloqueio continental.
Singapura é fundada por Thomas Raffles em 1819. No Canadá regista-se o avanço para oeste, abrindo novas frentes de colonização, o mesmo sucedendo na Índia, com a exploração do interior do Decão e de Assam, Bengala, etc.
O século XIX marca o auge do Império Colonial Britânico, cuja expansão económica e humana é favorecida pelo desenvolvimento do capitalismo financeiro e industrial, bem como pela pressão demográfica elevada.
Por outro lado, marca uma nova administração e gestão da realidade colonial. Exemplo disso é o governo directo da Coroa na Índia. Aí, porém, despoletará a primeira grande revolta contra o domínio colonial britânico: a revolta dos sipais, em 1858, que ditará o fim da Companhia das Índias Orientais. Em 1877, a rainha Vitória - num gesto de coesão face às autonomias ou aspirações mais radicais - proclama-se imperatriz da Índia, que compreendia um extenso território entre a fronteira irano-paquistanesa e a Birmânia e entre o Oceano Índico e o Tibete. Na China, estabelecem-se em Xangai. Na África, alimenta-se cada vez mais o sonho de construir um império inglês entre o Cairo, no Egipto, e a Cidade do Cabo, na África do Sul, o que é conseguido depois da Conferência de Berlim (1884-1885), que legitima a anexação de todos os territórios ao longo desse corredor africano (Egipto, Sudão, Quénia, Rodésia, Transvaal, etc.).
Neste último, entre 1899 e 1902, travará a primeira guerra do império, contra os bóers (descendentes de colonos holandeses estabelecidos desde o século XVII na África do Sul), que se tornarão autónomos em 1910 (União Sul-Africana).
Este conflito demonstra o desaparecimento gradual dos últimos obstáculos para a plena soberania das colónias desde o começo da segunda metade do século XIX. Nesse período, é dada autonomia às colónias de maioria de população europeia, como o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e as regiões da África do Sul (Cabo, Orange, Natal e Transvaal), que ganham um estatuto de domínios (soberania quase total, mas leais à Coroa britânica), respectivamente, em 1867, 1901, 1907 e 1910. Aliás, já só dependiam da metrópole, até essa data, para assuntos externos e de defesa.
Estes domínios participarão ao lado da Inglaterra na Primeira Guerra Mundial, o que origina uma nova organização do império, cada vez mais diminuto devido à independência daqueles domínios de população maioritariamente europeia, embora associados à Inglaterra através da Commonwealth (Estatuto de Westminster, 1931). Irlanda, Canadá e África do Sul aceitam o Estatuto nessa data, fazendo-o mais tarde a Austrália em 1942 e a Nova Zelândia em 1947: perdem assim o vínculo ao Reino Unido, apesar de reconhecerem a soberania simbólica da Coroa britânica.
No resto do império - que o Egipto é a primeira colónia não-branca a abandonar -, de população basicamente autóctone, novas fórmulas de associação política e económica são adoptadas: na Índia, por exemplo, tenta-se aproximar a população da administração, embora com custos elevados. De facto, após a Segunda Guerra Mundial e com o despertar dos nacionalismos, Índia e Paquistão tornam-se independentes e a Irlanda passa a república.
As décadas seguintes serão o cenário histórico da desagregação do império, nomeadamente em África. Actualmente, depois da devolução de Hong Kong, em 1997, à China, o Império Colonial Britânico resume-se a Gibraltar, à Ilha de Man e às ilhas do Canal da Mancha, na Europa, o Território Britânico do Oceano Índico, Pitcairn e dependências no Pacífico, Ilhas Malvinas, Anguilla, Bermudas, Geórgia do Sul, as Ilhas Caimão, Turks e Caicos, Montserrat, Ilhas Virgens Britânicas e Santa Helena e dependências (Tristão da Cunha e Ascensão) no Atlântico.
IMPÉRIO FRANCÊS
Os reis franceses se negaram a aceitar a divisão do mundo entre a Espanha e Portugal, definida, em 1491, pelo Tratado de Tordesilhas. O rei Francisco I financiou as viagens de Jacques Cartier, que explorou o rio São Lourenço, no Canadá (1534-1543). Com as últimas missões de Champlain, o referido território converteu-se mais tarde na Nova França. No século XIV, a França possuía o Canadá, as ilhas Maurício e Reunião, no oceano Índico, e algumas feitorias na Índia. Após o Tratado de Paris, perdeu a Louisiana. O Império francês sofreu as conseqüências das Guerras Anglo-francesas, sobretudo no caso do Canadá e da Índia. Com Napoleão III, a França conquistou a Argélia e o Senegal e anexou a Nova Caledônia (1853) e a Cochinchina (1862-1867). A intervenção no México, em 1864, foi um enorme fracasso.
Francisco I foi rei da França entre 1515 e 1547. Patrocinou as viagens de exploração de Jacques Cartier aos territórios que passariam a constituir o Canadá.
Não obstante, a expansão colonial francesa concretizou-se após a derrota da França frente a Prússia, na guerra de 1870-1871. Em 1881, a França obrigou o rei de Túnis a aceitar um protetorado francês sobre seu território, devido em grande parte ao crescimento do interesse italiano por Túnis. No Marrocos, era questão de tempo para que os franceses impusessem seu predomínio econômico. Na Conferência de Algecíras (1906), o sul do Marrocos foi reconhecido como área de influência francesa e, em 1912, foi estabelecido o protetorado francês.
A África Equatorial foi explorada por Pierre Savorgnan de Brazza, entre 1875 e 1880, e, em 1910, os territórios de possessão francesa foram agrupados sob a denominação de Federação da África Equatorial Francesa. Algo parecido ocorreu na África Ocidental, onde, após a ocupação da Costa Marfim (1883), Guiné (1896), Benín (1892), Senegal e Chade uniram-se a para formar a Federação da África Ocidental, em 1895. Na Indochina, os franceses concentraram seus esforços em Toquim, lugar que queriam converter em zona de acesso para a China. Ali, em 1884, estabeleceram um protetorado e, em 1893, proclamou-se a União Indochina.
A França desenvolveu uma administração e uma cultura tentando estabelecer uma unidade entre as colônias, mas sem chegar a um acordo sobre a relação que estes territórios deveriam manter com a metrópole. A opinião dos partidos políticos franceses de esquerda, contrários ao colonialismo, permitiu o surgimento de uma opinião que exigia mudanças dentro do Império francês.
Com a Constituição de 1946, o Império francês passou a denominar-se União Francesa, o que exprimia a negação não só de independência, mas também de autogoverno.
A rejeição à União Francesa provocou várias guerras. A primeira ocorreu na Indochina. Em 1945, as forças de resistência indochinas, sob as ordens de Ho Chi Minh, proclamaram sua independência da França. Após a derrota de Dien Bien Phu, Pierre Mendès-France negociou os acordos de Genebra, que deram fim à presença francesa na Indochina.
Em novembro de 1954, começou a guerra da Argélia. Na França, vivia-se um clima de declínio e fracasso, que permitiu o retorno de Charles de Gaulle ao poder, sendo ele o negociador da independência da Argélia.
De Gaulle procurou garantir o controle sobre as colônias africanas e, para tanto, criou a Comunidade Francesa (1958). No entanto, os líderes africanos buscavam a independência e negaram-se a integrá-la. Como aconteceu com Túnis, em 1954, e com o Marrocos, em 1958, as colônias francesas da África Negra conquistaram a independência, na década de 1960.
O que ainda existe do antigo Império francês são a Guiana e as ilhas de Guadalupe, Martinica e Reunião.
O império Holandês.Como é que um grupo de revoltosos por motivos religiosos conseguiu criar por alguns anos uma das maiores potências marítimas?
De uma forma resumida: na década de 1560, as províncias do sul (habitualmente chamada de Flandres), viram uma parte importante converter-se ao calvinismo. A repressão espanhola não tardou e muitos dos calvinistas fugiram para as províncias do norte (que se tinham mantido católicas). Expulsando os padres da igreja católica (ao contrário do que sucedera no sul, em que os padres se tinham convertidos em ministros protestantes), sem poder impor à população a nova religião, conseguiram pelo menos apropriar-se do governo das 7 províncias. A província da Holanda começou (com o afluxo de refugiados do sul) a dedicar-se à pirataria, e ao fechar a entrada do rio escalda ao porto de Antuérpia (o grande porto do sul), liquidou o comércio das províncias do sul, tendo Amesterdão no norte substituído Antuérpia. Grupos de mercadores associavam-se (para minimizar as perdas) e começaram a enviar pequenas frotas para o oriente (até então monopólio dos portugueses): apesar de por vezes as perdas incluírem ¾ dos barcos, os lucros chegavam aos 400 %. O dinheiro era em parte investido noutros negócios (como seguro no caso das coisas correrem mal), mas a maior parte era reinvestido em novas frotas. Ao fim de alguns anos, os mercadores começaram a associar-se em companhias que se disputavam (havia uma média uma companhia por província); para evitar as rivalidades, essas companhias fundiram-se, criando a companhia das índias ocidentais, e a companhia das ilhas orientais. Assim formava-se uma forte e rica classe de mercadores com espírito de iniciativa, que contrastava com as monarquias ibéricas, em que a Coroa detinha o monopólio dos comércios mais lucrativos, com pesadas burocracias.
À medida que os anos passando, as 2 companhias deixaram de ter um carácter estritamente comercial, e começaram a conquistar territórios (sobretudo aos portugueses), ocupando parte do Brasil, Angola, etc. A ocupação de territórios exigia a manutenção de guarnições e frotas de defesa ao mesmo tempo que os inimigos europeus aumentavam (e mesmo os indígenas que deixavam de os ver como libertadores para meros novos ocupantes), perdendo boa parte dos seus territórios e da sua parte do comércio. Acabaram por ficar apenas com alguns enclaves nas Antilhas, Suriname, Indonésia, e uma colónia no cabo destinada a ter um curioso destino.
IMPÉRIO BRITÂNICO
Os ingleses lançaram-se à conquista do mundo durante o reinado de Henrique VIII (1509-1547), que promoveu a indústria naval, como forma de expandir o comércio para além das Ilhas Britânicas. Mas as primeiras colónias britânicas só foram fundadas durante o reinado de Isabel I, quando Sir Francis Drake circumnavegou o globo nos anos 1577 a 1580 (Fernão de Magalhães já a tinha realizado em 1522). Em 1579, Drake chegou à Califórnia e proclamou aquela região “colónia da Coroa”, chamando-lhe “Nova Albion” ("Nova Inglaterra"), mas não promoveu a sua ocupação. Humphrey Gilbert chegou à Terra Nova em 1583 e declarou-a colónia inglesa, enquanto Sir Walter Raleigh organizou a colónia da Virginia em 1587, mas ambas estas colónias tiveram pouco tempo de vida e tiveram de ser abandonadas, por falta de comida e encontros hostis com as tribos indígenas do continente Americano.
Foi apenas no século seguinte, durante o reinado de Jaime I da Inglaterra, depois da derrota da Armada Invencível de Espanha, que foi assinado o Tratado de Londres, permitindo o estabelecimento da colónia da Virginia em 1607. Durante os três séculos seguintes, os ingleses expandiram o seu império a praticamente todo o mundo, incluindo grande parte de África, quase toda a América do Norte, a Índia e regiões vizinhas e várias ilhas ao redor do mundo.
Assim, em 1670 já existiam colónias inglesas estáveis na América do Norte (Nova Inglaterra, Virgínia, Carolina) e em Antígua, Barbados, Belize e Jamaica, bem como uma penetração comercial na Índia desde 1600, graças à Companhia das Índias Orientais. Funda desde 1660, em África, entrepostos de captação de escravos para as plantações americanas, apossando-se, no século seguinte em 1787, de inúmeros territórios entre o Rio Gâmbia (encravado no Senegal francês) e a Nigéria, abarcando a famosa Costa do Ouro, o actual Gana. O século XVIII é, deste modo, o período de afirmação e maturação do projecto colonial britânico.
O seu único revés neste período, forte aliás, será a independência dos EUA, em 1776. Esta perda será compensada com o início da colonização da Austrália em 1783 e mais tarde da Nova Zelândia a partir de 1840, para onde envia inicialmente deportados.
A sua armada mantém-se superior às demais com a Batalha de Trafalgar em 1805, impondo uma vez mais uma pesada derrota a um adversário. O domínio de novas colónias é constante nesta altura - Malaca, desde 1795, Ceilão, Trindade e Tobago, em 1802, Malta, Santa Lúcia e Maurícia, em 1815, depois da derrota napoleónica e do seu bloqueio continental.
Singapura é fundada por Thomas Raffles em 1819. No Canadá regista-se o avanço para oeste, abrindo novas frentes de colonização, o mesmo sucedendo na Índia, com a exploração do interior do Decão e de Assam, Bengala, etc.
O século XIX marca o auge do Império Colonial Britânico, cuja expansão económica e humana é favorecida pelo desenvolvimento do capitalismo financeiro e industrial, bem como pela pressão demográfica elevada.
Por outro lado, marca uma nova administração e gestão da realidade colonial. Exemplo disso é o governo directo da Coroa na Índia. Aí, porém, despoletará a primeira grande revolta contra o domínio colonial britânico: a revolta dos sipais, em 1858, que ditará o fim da Companhia das Índias Orientais. Em 1877, a rainha Vitória - num gesto de coesão face às autonomias ou aspirações mais radicais - proclama-se imperatriz da Índia, que compreendia um extenso território entre a fronteira irano-paquistanesa e a Birmânia e entre o Oceano Índico e o Tibete. Na China, estabelecem-se em Xangai. Na África, alimenta-se cada vez mais o sonho de construir um império inglês entre o Cairo, no Egipto, e a Cidade do Cabo, na África do Sul, o que é conseguido depois da Conferência de Berlim (1884-1885), que legitima a anexação de todos os territórios ao longo desse corredor africano (Egipto, Sudão, Quénia, Rodésia, Transvaal, etc.).
Neste último, entre 1899 e 1902, travará a primeira guerra do império, contra os bóers (descendentes de colonos holandeses estabelecidos desde o século XVII na África do Sul), que se tornarão autónomos em 1910 (União Sul-Africana).
Este conflito demonstra o desaparecimento gradual dos últimos obstáculos para a plena soberania das colónias desde o começo da segunda metade do século XIX. Nesse período, é dada autonomia às colónias de maioria de população europeia, como o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e as regiões da África do Sul (Cabo, Orange, Natal e Transvaal), que ganham um estatuto de domínios (soberania quase total, mas leais à Coroa britânica), respectivamente, em 1867, 1901, 1907 e 1910. Aliás, já só dependiam da metrópole, até essa data, para assuntos externos e de defesa.
Estes domínios participarão ao lado da Inglaterra na Primeira Guerra Mundial, o que origina uma nova organização do império, cada vez mais diminuto devido à independência daqueles domínios de população maioritariamente europeia, embora associados à Inglaterra através da Commonwealth (Estatuto de Westminster, 1931). Irlanda, Canadá e África do Sul aceitam o Estatuto nessa data, fazendo-o mais tarde a Austrália em 1942 e a Nova Zelândia em 1947: perdem assim o vínculo ao Reino Unido, apesar de reconhecerem a soberania simbólica da Coroa britânica.
No resto do império - que o Egipto é a primeira colónia não-branca a abandonar -, de população basicamente autóctone, novas fórmulas de associação política e económica são adoptadas: na Índia, por exemplo, tenta-se aproximar a população da administração, embora com custos elevados. De facto, após a Segunda Guerra Mundial e com o despertar dos nacionalismos, Índia e Paquistão tornam-se independentes e a Irlanda passa a república.
As décadas seguintes serão o cenário histórico da desagregação do império, nomeadamente em África. Actualmente, depois da devolução de Hong Kong, em 1997, à China, o Império Colonial Britânico resume-se a Gibraltar, à Ilha de Man e às ilhas do Canal da Mancha, na Europa, o Território Britânico do Oceano Índico, Pitcairn e dependências no Pacífico, Ilhas Malvinas, Anguilla, Bermudas, Geórgia do Sul, as Ilhas Caimão, Turks e Caicos, Montserrat, Ilhas Virgens Britânicas e Santa Helena e dependências (Tristão da Cunha e Ascensão) no Atlântico.
IMPÉRIO FRANCÊS
Os reis franceses se negaram a aceitar a divisão do mundo entre a Espanha e Portugal, definida, em 1491, pelo Tratado de Tordesilhas. O rei Francisco I financiou as viagens de Jacques Cartier, que explorou o rio São Lourenço, no Canadá (1534-1543). Com as últimas missões de Champlain, o referido território converteu-se mais tarde na Nova França. No século XIV, a França possuía o Canadá, as ilhas Maurício e Reunião, no oceano Índico, e algumas feitorias na Índia. Após o Tratado de Paris, perdeu a Louisiana. O Império francês sofreu as conseqüências das Guerras Anglo-francesas, sobretudo no caso do Canadá e da Índia. Com Napoleão III, a França conquistou a Argélia e o Senegal e anexou a Nova Caledônia (1853) e a Cochinchina (1862-1867). A intervenção no México, em 1864, foi um enorme fracasso.
Francisco I foi rei da França entre 1515 e 1547. Patrocinou as viagens de exploração de Jacques Cartier aos territórios que passariam a constituir o Canadá.
Não obstante, a expansão colonial francesa concretizou-se após a derrota da França frente a Prússia, na guerra de 1870-1871. Em 1881, a França obrigou o rei de Túnis a aceitar um protetorado francês sobre seu território, devido em grande parte ao crescimento do interesse italiano por Túnis. No Marrocos, era questão de tempo para que os franceses impusessem seu predomínio econômico. Na Conferência de Algecíras (1906), o sul do Marrocos foi reconhecido como área de influência francesa e, em 1912, foi estabelecido o protetorado francês.
A África Equatorial foi explorada por Pierre Savorgnan de Brazza, entre 1875 e 1880, e, em 1910, os territórios de possessão francesa foram agrupados sob a denominação de Federação da África Equatorial Francesa. Algo parecido ocorreu na África Ocidental, onde, após a ocupação da Costa Marfim (1883), Guiné (1896), Benín (1892), Senegal e Chade uniram-se a para formar a Federação da África Ocidental, em 1895. Na Indochina, os franceses concentraram seus esforços em Toquim, lugar que queriam converter em zona de acesso para a China. Ali, em 1884, estabeleceram um protetorado e, em 1893, proclamou-se a União Indochina.
A França desenvolveu uma administração e uma cultura tentando estabelecer uma unidade entre as colônias, mas sem chegar a um acordo sobre a relação que estes territórios deveriam manter com a metrópole. A opinião dos partidos políticos franceses de esquerda, contrários ao colonialismo, permitiu o surgimento de uma opinião que exigia mudanças dentro do Império francês.
Com a Constituição de 1946, o Império francês passou a denominar-se União Francesa, o que exprimia a negação não só de independência, mas também de autogoverno.
A rejeição à União Francesa provocou várias guerras. A primeira ocorreu na Indochina. Em 1945, as forças de resistência indochinas, sob as ordens de Ho Chi Minh, proclamaram sua independência da França. Após a derrota de Dien Bien Phu, Pierre Mendès-France negociou os acordos de Genebra, que deram fim à presença francesa na Indochina.
Em novembro de 1954, começou a guerra da Argélia. Na França, vivia-se um clima de declínio e fracasso, que permitiu o retorno de Charles de Gaulle ao poder, sendo ele o negociador da independência da Argélia.
De Gaulle procurou garantir o controle sobre as colônias africanas e, para tanto, criou a Comunidade Francesa (1958). No entanto, os líderes africanos buscavam a independência e negaram-se a integrá-la. Como aconteceu com Túnis, em 1954, e com o Marrocos, em 1958, as colônias francesas da África Negra conquistaram a independência, na década de 1960.
O que ainda existe do antigo Império francês são a Guiana e as ilhas de Guadalupe, Martinica e Reunião.
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