sábado, 16 de outubro de 2010

AUTO DE FÉ NO TERREIRO DO PAÇO

"O preso está amarrado a uma altura tal que a ponta da chama raramente sobe acima da tábua onde ele está sentado; e se sucede estar vento - coisa a que esta cidade é muito exposta - raramente lhe sobe à altura dos joelhos. 
De modo que, mesmo com tempo sereno, os afirmativos morrem cerca de meia hora depois de acesa a lenha, e se o tempo está ventoso não morrem senão dentro de hora e meia ou duas horas, e são desta maneira realmente assados e não mortos pelas chamas. Mas, conquanto, fora do Inferno, não haja talvez espetáculo mais lamentável do que este, acrescentado com gritos dos padecentes, durante tanto tempo quanto são capazes de falar - "Misericórdia, por amor de Deus" -, todavia é presenciado por gente de ambos os sexos e de todas as idades com tais transportes de alegria e satisfação como se não manifestam em outra ocasião alguma."

 Descrição de um inglês que assistiu a um auto de fé em Lisboa.

 in História de Portugal