domingo, 23 de março de 2014

CADERNOS DE QUEIXAS DO TERCEIRO ESTADO - CAHIERS DE DOLÉANCES

O que eram os cadernos de queixas?
 Cahiers de Doléances (do francês antigo doléance e douloir, [...] “doer", em português - "cadernos de queixas") são registros nos quais a assembleia de cada das circunscrições francesas, encarregadas de eleger os deputados para os Estados Gerais, anotava petições e queixas da população.
 Seu uso remonta ao século XIV. 
Os mais notórios sãos os de 1789. 
Como uma espécie de consulta às necessidades e anseios da população, os cadernos expressavam as instruções e poderes conferidos pela população a seus deputados. 
Para preparar a reunião dos Estados Gerais, os súditos do reino redigiam seus cahiers de doléances, registrando queixas e pedidos endereçados ao rei. 
Cada ordem (Nobreza, Clero, Terceiro Estado) tinha o seu; cada paróquia redigia o seu e, posteriormente, os cadernos eram agrupados por entidade administrativa. 
Para o Terceiro Estado, eram elaborados cahiers de cidades, paróquias, corporações de ofício, consolidados em três fases - cada fase resultando na redação de um caderno. (...) Entre março e abril de 1789 foi solicitado aos franceses que redigissem seus cadernos, a serem encaminhados aos deputados eleitos para os Estados Gerais de 1 de maio de 1789, conforme convocação de Luís XVI. 
A consolidação dos cadernos foi feita poucas semanas antes da abertura dos Estados Gerais, de modo a permitir o debate. 
Estima-se que tenham sido enviados ao rei entre cinquenta e sessenta mil desses cadernos. 
 Atualmente, os cadernos são uma fonte de informação essencial para a pesquisa histórica acerca da vida dos franceses sobretudo à época da Revolução Francesa. 
Poucos cadernos anteriores a 1789 estão disponíveis. 

(Fonte: wikipedia)

 AS QUEIXAS DO TERCEIRO ESTADO: 1. Paróquia de Longey, eleição de Chateaudun, generalidade de Órleans: Nós, habitantes da paróquia de Longey abaixo-assinados, tendo nos reunido em virtude das ordens do Rei, na sexta-feira, dia 6 do presente mês de maio de 1789, resolvemos o que segue: 
Pedimos que todos os privilégios sejam abolidos - declaramos que se alguém merece ter privilégios e gozar de isenções, são estes, sem contradição, os habitantes do campo, pois são os mais úteis ao Estado, porque por seu trabalho o fazem viver. 
 Que até hoje foram quase os únicos a pagar os exorbitantes impostos de que esta província está carregada; que os campos estão arruinados e os cultivadores na impossibilidade de poder manter e criar sua família; que à maior parte falta o pão, visto os impostos que os sobrecarregam e as perdas que experimentam todos os anos, seja pela caça, seja por outros flagelos. 
Pedimos também que as talhas com as quais a nossa paróquia esta sobrecarregada sejam abolidas; que este imposto que nos oprime, e que só é pago pelos infelizes, seja convertido num só e único imposto ao qual devem ser submetidos todos os eclesiásticos e nobres sem distinção, e que o produto deste imposto seja levado diretamente ao Tesouro. 
 Pedimos ainda que não haja mais gabela e que o sal se torne comerciável, o que seria um grande benefício para todo o povo e principalmente para nós, habitantes do campo, que pagamos esta mercadoria muito caro e que dela fazemos o maior consumo um imposto que nos e muito oneroso e prejudicial.

(Seguem-se 12 assinaturas.)

 (Mattoso, Kátia M. de Q., op. cit. p. 4/5.)

 Estado de Poitiers: "A esta classe camponesa, tão útil [...] pelo seu trabalho, a prosperidade de nada serve: os rendimentos da terra são devorados pelos impostos [...]. 
O cavador, coberto pelos farrapos da miséria, só tem, para se deitar, um leito de palha e, por alimento, um pão grosseiro que, quantas vezes, apenas pode molhar nas suas lágrimas. 
Nem na infância conhece repouso: cavador aos sete anos, decrépito aos trinta, é esta a sua triste sorte."

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