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A
Esquema piramidal
O esquema compositivo mais comum utilizado
por Leonardo é o esquema piramidal. As figuras são dispostas na cena de maneira
que o seu conjunto ocupe a maior área próxima ao chão, e quanto mais se elevam
na vertical, menor área ocupam. Disso resulta uma estrutura em forma de
triângulo que tornou-se, mais tarde, quase um padrão na arte de Rafael e outros
pintores. Na ilustração,A Virgem com o Menino e Santa Ana,
pode-se perceber como as três figuras enquadram-se dentro do esquema piramidal,
em que pese a extraordinária naturalidade dos gestos e da expressão das
personagens.
Perspectiva aérea ou atmosférica
A perspectiva aérea é um modo de representar os efeitos das grandes distâncias na percepção que temos das cores e dos contornos dos objetos. Sabe-se que, quanto mais distante está um objeto ou uma cena de nós, menos nítidos vemos seus contornos. Também as cores são afetadas por esta determinante. Dada a presença do oxigênio no ar que intermedia a distância entre nós e as montanhas longínquas que Leonardo representou na Virgem e o Menino com Santa Ana, quanto mais distantes estão as montanhas, mais azuladas nos parecerão. Esta é também a razão de vermos o céu azul em dia de sol.Desenvolveu o uso da perspectiva aérea através da qual, e tendo como referência os valores atmosféricos, a nitidez dos contornos vai diminuindo e as cores vão adquirindo tonalidades mais frias, consoante as figuras e objectos representados se afastam do primeiro plano. Este efeito de perspectiva era aliado à técnica de sfumato (esfumado) em que os contornos das formas se esbatem progressivamente envolvendo, por gradação da luz, os planos mais afastados numa neblina que dá às suas obras a característica ambiência misteriosa e enigmática.
Perspectiva linear
Nós habitamos um mundo tridimensional. Diante dos nossos olhos temos três dimensões: a altura, a largura e a profundidade. É por causa da profundidade que dizemos “a árvore está longe” ou “a árvore está perto”. Se não existisse a profundidade, todos os objectos encontrar-se-iam à mesma distância dos nossos olhos. Basta olharmos através de uma janela para percebermos que há edifícios ou árvores que estão mais longe do que outros edifícios ou outras árvores. Ora, um suporte pictórico (a tela ou o papel, por exemplo) tem apenas duas dimensões: a altura e a largura. Isto quer dizer que, se quisermos criar a terceira dimensão, a profundidade (ou seja, a distância a que as coisas se encontram dos nossos olhos) precisamos de encontrar os mecanismos que satisfaçam esse desejo. O que é, então, a perspectiva linear? Foi Brunelleschi (1377 — 1446) que desenvolveu o sistema denominado por “perspectiva linear”. Este é um sistema que consiste na projecção de um determinado espaço tridimensional numa superfície bidimensional (como uma folha de papel, por exemplo). O ponto de fuga é uma característica deste sistema
. O ponto de fuga é o lugar para onde convergem as “linhas” que formam o objecto no espaço tridimensional. Assim, o ponto de fuga é como se fosse uma espécie de alvo. O esquema acima representa uma estrada e dois edifícios, desenhado segundo a perspectiva linear. Repare-se nas setas vermelhas alinhadas com o topo dos edifícios e que apontam para o ponto de fuga. O mesmo acontece com cada uma das janelas viradas para a estrada. Passemos a um exemplo onde conseguimos visualizar o esquema que mostrei, ainda que seja no interior de um edifício: a Igreja de San Lorenzo, da autoria de Brunelleschi, em Florença.
É possível utilizar mais do que um ponto de fuga em cada desenho, como acontece quando queremos, por exemplo, desenhar duas “faces” de um mesmo edifício:
Uma anamorfose é uma figura aparentemente disforme que, por reflexão num determinado sistema óptico (geralmente um espelho cilíndrico ou cónico, mas existem também piramidais), produz uma imagem regular do objecto que representa. Apesar de normalmente concebidas com base num cálculo gráfico da distorção causada pelo espelho, alguns artistas, sobretudo na China, trabalhavam empiricamente, pintando ao mesmo tempo que viam o pincel através do espelho apropriado. De entre as várias teorizações que levaram ao desenvolvimento da técnica de construção de anamorfoses, conta-se a descrição de Piero della Francesca na sua influente obra, De prospectiva pingendi.
Esta técnica foi frequentemente utilizada como diversão, por vezes para esconder retratos proibidos por razões políticas ou imagens pornográficas [Blakemore, 1986, p. 84]. Contudo, as anamorfoses foram também proliferamente incluídas em obras artísticas. Um exemplo é a pintura Os Embaixadores de Hans Holbein (v. Retrato), em que adquire uma carga simbólica ao representar a morte e a sua inexorável presença, alertando assim para a frágil natureza humana [Hagen, 1995].
Ao observarmos este interior, conseguimos perfeitamente imaginar as linhas que convergem para o ponto de fuga, o qual conseguimos também visualizar-lhe a localização ao seguirmos essas linhas. Portanto, resumindo de forma simplificada, num desenho em perspectiva linear, os objectos surgem a partir do ponto de fuga e na direcção dele convergem, como exemplifico na próxima imagem:
É possível utilizar mais do que um ponto de fuga em cada desenho, como acontece quando queremos, por exemplo, desenhar duas “faces” de um mesmo edifício:
Um outro elemento da perspectiva linear é a linha do horizonte que é, por assim dizer, a linha que divide o céu do solo, conforme se mostra nas imagens acima
. Ou seja, acima da linha é o céu e, abaixo da linha, fica o chão.
E pronto, por aqui fica esta pequena introdução à perspectiva linear, onde explico simplificadamente duas ou três noções desta forma de projecção de um espaço tridimensional num suporte bidimensional.
Origem da imagem da Igreja de San Lorenzo, de Brunelleschi.
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