segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Trabalho feminino e infantil no século XIX


“Tinha 7 anos quando comecei a trabalhar na fábrica: o trabalho era a fiação da lã; as horas de trabalho decorriam entre as 5 da manhã e as 8 da noite, com um intervalo de 30 minutos ao meio-dia para repousar e comer (...). Nesta fábrica havia cerca de 50 crianças mais ou menos da minha idade (...). Havia sempre uma meia dúzia de crianças doentes devido ao excesso de trabalho (...) Era à força do chicote que as crianças se mantinham no trabalho. Esta era a principal ocupação de um contramestre – fustigar as crianças as crianças para as fazer trabalhar excessivamente. Nas minas da divisão Oeste de Yorkshire parece que se empregam quase só mulheres para manobrar as portas de ventilação (...). Estas raparigas têm todas idades desde os 7 aos 21 anos.”

Conde de Shaftesbury, Discurso in Mémoires de l’Europe

 “Betty Harris, 37 anos (...) não sei ler nem escrever. Trabalho para Andrew Knowles, da Litle Bolton (Lancashire). Puxo vagonetas de carvão e trabalho das 6 horas da manhã às 6 horas da tarde. Puxei vagonetas quando estava grávida. Conheço uma mulher que entrou em casa depois do trabalho, lavou-se, deitou-se, pariu e voltou ao trabalho menos de uma semana depois. Uso uma correia em torno da cintura, uma cadeia que me passa entre as pernas e avanço com as mãos e com os pés. O caminho é muito íngreme e somos amarrados a uma corda. (...) No sítio em que trabalho, a fossa é muito húmida e a água cobre-me sempre os sapatos; um dia estive com água até às coxas (...)”.

Relatório parlamentar inglês de 1842

 '-Sou encarregada de abrir e fechar as portas de ventilação na mina de Gauber, tenho de fazer isso sem luz e estou assustada. Entro às quatro, e às vezes às três e meia da manhã, e saio às cinco e meia. Nunca durmo. Às vezes canto quando tenho luz, mas não no escuro: não ouso cantar'. Esta é a descrição feita por uma menina de oito anos, Sarah Gooder, de um dia nas minas, em meados do século XIX. As revelações de Sarah e de outras crianças levaram finalmente a uma legislação proibindo o emprego de crianças nas minas - quer dizer, crianças abaixo de dez anos de idade!

(POSTMAN, 1999, p.67).

 "A criança de sete a dez anos, já conduz os bois, guarda o gado, apanha a lenha, acarreta, sacha, colabora na cultura. Tem a altura de uma enxada e a utilidade de um homem. Sai de madrugada, recolhe às trindades, com o seu dia rudemente trabalhado. Mandá-lo à escola, de manhã e de tarde, umas poucas de horas, é diminuir a força produtora do casal. Um aluno de mais na escola é assim um braço de menos na lavoura. Ora uma família de lavradores não pode luxuosamente diminuir as suas forças vivas. Não é por o filho saber soletrar a cartilha que a terra lhe dará mais pão. Portanto tiram a criança à escola para a empregar na terra.”

Uma Campanha Alegre
(Volume II, Capítulo XXII: Melancólicas reflexões sobre a instrução pública em Portugal) por Eça de Queirós

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